domingo, 6 de setembro de 2009

Há...


Há corações pequenos e tímidos, corações grandes e abertos, corações onde é preciso meter requerimentos de papel azul e selo de garantia para abrirem as portas, e outros, cheios de janelas, frescos e arejados...
Há corações com trancas, segredos e sistema de alarme como cofres fortes. Corações sombrios e desconfiados, com fechaduras secretas e portas falsas. Corações que parecem simples, mas quando se entra, espera-nos o mais perverso dos labirintos. E há corações que são como jardins públicos, onde pessoas de todas as idades podem entrar e descansar...
Há corações que são como casas antigas, cheios de mistérios e fantasmas, com jardins secretos e sotãos poeirentos, carregados de memórias e recordações. E há corações simples e fáceis de conhecer, descontraídos e leves, sempre em férias com tendas de campismo...
Há corações viajantes, temerários e corajosos, como barcos à vela que nos parecem bonitos ao longe, mas que nos deixam sempre na boca o sabor amargo de nunca os conseguirmos abarcar...
Há corações rebeldes e selvagens que não suportam laços nem correntes, corações predadores que só sobrevivem se caçarem outros corações, que correm tão depressa como chitas e matam como leoas e, depois há os corações gnus, que sabem que vão ser caçados mas não fogem ao seu destino...
Há corações que são como rosas, caprichosos e cheios de espinhos e outros que são campainhas, simplórios e carentes sempre a chamar por afecto. Há corações que são como girassóis, rodando as suas paixões ao sabor do brilho e da glória e corações como batata-doce, que só crescem e se alimentam se estiverem bem guardados e escondidos debaixo da terra.
Há corações a motor, que vivem só para o trabalho e corações poetas que só se alimentam de sonhos e ilusões. Há corações teatrais, para quem a vida é uma comédia ou uma tragédia e corações cinéfilos, que registam a beleza de cada momento em frames de paixão...
Mas há ainda uma outra espécie de coração, os corações hospedeiros, que sabem receber e fazer sentir os outros corações como se estivessem em casa, que dão e aceitam amor sem se fixarem, que tratam cada passageiro como se fosse o último, enquanto procuram o seu coração gémeo, sempre na esperança secreta, e nunca perdida, de um dia deixarem de viajar e sossegarem o seu bater...

3 comentários:

Anónimo disse...

lindo.

MM disse...

Faltam-me palavras para descrever o impacto deste texto. Está lindo, lindo. Adorei.
Bem-vinda, minha Lua Cheia.
Beijos.

Apaixonado pela Lua disse...

MAGNÍFICO!!