terça-feira, 28 de outubro de 2008

Era uma vez...


Era uma vez um viajante que, depois de inúmeras viagens por outras tantas galáxias, chegou a um planeta onde encontrou um ser que em muito apresentava semelhanças com o que na terra se podia ter como animal de estimação. Podia ser um cão ou um gato. Era uma criatura diferente, talvez até estranha, mas amistosa, mostrava-se afável e de confiança. E por tudo o que a criatura lhe inspirava imediatamente se afeiçoou a ela. Ficou radiante por também a criatura mostrar sinais de afecto.

O viajante ficou muito satisfeito com a situação. Tinha estabelecido contacto com um ser alienígena e isso era um feito notável neste e em qualquer mundo habitado. Tratou, por isso, de cuidar bem da sua descoberta. E lá foi cuidando sempre o melhor que pode. Pensou que a sua missão a partir daí seria cuidar. E a criatura, aparentemente cuidada e cuidadosa, deixou-se cuidar porque pensou que esse cuidado era importante para o viajante.

Os dias iam passando e os cuidados do viajante tornavam-se uma rotina mais ou menos bem sucedida. Entretanto a criatura, que não era nem um gato nem um cão, interrogava-se sobre o que faria o viajante manter tanto afinco em cuidados que, afinal, não eram tão necessários assim, e sentia-se incomodado. O viajante olhava a criatura cada vez mais com estranheza e pensava e repensava como é que tanto empenho e afecto a cuidar poderia incomodar e, confuso, foi entristecendo. A criatura notou e ficou triste, sem saber como curar a tristeza do viajante.

O viajante conhecia cães e gatos e amava todos os animais. Queira o melhor para eles. Por mais que se esforçasse não entendia o desconforto e a indiferença da criatura que, entretanto, comunicava numa linguagem estranha e indecifrável. O viajante começou a ter medo sem saber de quê. A criatura reparou e não percebeu porquê. O viajante inventava maneiras de cuidar. A criatura inventava formas de se deixar cuidar sem esforço do viajante. O viajante cuidava que cuidava. A criatura queria cuidar sem nunca conseguir.

Ambos se tinham esquecido que eram apenas diferentes. Diferentes no sentir e no cuidar. E isso fazia toda a diferença das peças por encaixar. O viajante e a criatura eram diferentes e atropelavam-se diariamente sem perceber os limites da diferença...

2 comentários:

Anónimo disse...

A comunicação é uma maneira sábia de saber viver. Saber utilizar as várias maneiras de comunicarmos uns com os outros é saber encontrar o equilíbrio de uma relação, é descobrirmos o intimo do outro sem o atropelar com algo não o faça sentir bem. A partir dessa maneira de interagir, criaturas diferentes podem-se adaptar mutuamente, mas sem se modelarem plasticamente um ao outro. Adaptação, não implica desistência da nossa própria essência e individualidade. A comunicação implica muitas vezes observação muda, mútua e olhares unissonos. A captação regular das vibrações vocais ou de outro leque de sensações dão-nos o conhecimentos das nossas diferenças e do que se pode realizar para que o seu encaixe seja mútuo entre dois seres. Este é o segredo do respeito entre todos nós, os viajantes deste e outros universos.

7Estrelo disse...

São os seres de rara qualidade – sejam deste ou de outros mundos – que permitem a evolução do homem. Assim, ou nos cruzamos com “eles” no caminho ou então partimos ao seu encontro.